Por Jairo Ardull
Jornalista
No dia 25 de julho de 2016, era demolida a Catedral de São Bosco. Em poucas horas, foram abaixo mais de 50 anos da história. Com a decisão favorável do Ministério Público Federal, a Diocese de Ji-Paraná correu para “tombar” o prédio, na noite de uma segunda-feira, para que poucos pudessem assistir.
Com os escombros, foi parte da memória local que ia além da própria catedral. Ela remonta ao começo da formação da cidade, com a criação do Distrito (Vila) de Rondônia no Território Federal do Guaporé, em 1945. Nesta época, em que o percurso tinha que ser feito pelas águas do rio Gy-paraná, chegou à localidade o padre salesiano de origem alemã Adolfo Hohl.
Padre Adolfo Hohl veio como a missão de entregar à população seringueira e comunidades indígenas os sacramentos da Igreja Católica, mas fez muito que isso. Embora tivesse que receber doações para se alimentar nos primeiros meses, nos anos seguintes, devolveu a algumas dezenas de moradores muito mais que previa o Código Canônico.
A primeira igreja ao santo de devoção “São João Bosco” foi erguida com madeira na margem do rio onde está situado o centro da cidade de Ji-Paraná. As procissões do santo, que mais tarde viria se a tornar padroeiro da cidade, eram eventos concorridos, responsáveis por também reunir pessoas de comunidades próximas. Com o tempo, a pequena igreja foi demolida. No local, foi instalado o Mercado Municipal e, mais tarde, o Teatro Dominguinhos.
No começo dos anos 1960, a comunidade se uniu para construção da nova catedral. Foram tantas as mãos para construir tijolo a tijolo o sonho do padre do alemão, que o esforço foi reconhecido pela Prelazia de Porto Velho. Pouco depois, foi decretada a criação da Paróquia de São João Bosco, em 27 de setembro de 1964, e seu primeiro pároco Adolfo Hohl.
O que era uma manifestação de religiosidade para salvação das almas dos moradores, na longínqua Vila de Rondônia, também se transformou em uma devoção educacional com a substituição do Grupo Escolar “Isolado” Gonçalves Dias da diretora, merendeira, zeladora e professora Beatriz Ferreira da Silva (Dona Beata) pelo Grupo Escolar Dom Bosco, concebido pelo próprio padre.
Não bastassem os esforços em garantir religiosidade e educação aos moradores, que na época chegavam a 4500, ainda houve fôlego do padre para fundar o Hospital Nossa Senhora Aparecida. Era o terceiro pilar para que a comunidade pudesse se estruturar e seguir o seu destino. Com o tempo, deixaram de existir a escola e o hospital, surgidos da determinação e carisma de Adolfo Hohl.
A Catedral de São João Bosco era a última lembrança de um tempo e pessoas que não voltam mais. Ela cedeu seu lugar por não haver mais espaços públicos para se construir o novo templo. Padre Adolfo Hohl deixou, em Ji-Paraná, um legado imaterial de religiosidade, educação e saúde que, hoje, estou aqui para lembrar.
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