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Notícia publicada em 09/07/2015 às 10:30 | Ponto & Virgula
Dó, diabetes, grama e carisma: palavras masculinas ou femininas? Tem certeza?
Confira a coluna do jornalista Marcos Lock

 

 

Esta semana mais um caso foi flagrado por este jornalista e pesquisador da nossa língua. Estava numa determinada fila quando ouvi uma pessoa logo atrás dizer que tinha “uma” carisma por outra ali próxima. Soou estranho? De fato, porque o correto é “um” carisma, apesar desta palavra terminar em “-a”.

 

Este é um engano cometido por muita gente porque a questão do gênero em nosso idioma não é simplesmente definida pelos artigos no final das palavras. Como em português não existe o­ficialmente o gênero neutro gramatical os substantivos são distribuídos apenas em masculinos e femininos. Quer outro exemplo? Quem conseguirá manter como masculina a palavra “grama” (unidade de peso)? A influência da outra grama, a relva, tem sido avassaladora e, por isso, o povo vai pedir cada vez mais “trezentas gramas” de presunto e pronto!

 

Outra palavrinha que o povo não engole como masculina é “dó”, no sentido de compaixão ou no outro, de nota musical. A maioria a emprega como feminina, embora ela continue sendo masculina. Mas veja o caso de “diabetes” e “personagem”. Tempos atrás ambas eram apenas masculinas e, de tanto as pessoas insistirem em torná-las femininas, hoje os dicionários Houaiss e Aurélio já as tratam como substantivo de dois gêneros. E mais ainda: a forma “o diabetes” e “o personagem” estão aos poucos desaparecendo, para dar lugar somente à “a diabetes” e “a personagem”. Bom, agora acho que entendo por que Carlos Drummond de Andrade disse que lutar contra as palavras é uma luta vã. Parafraseando o grande poeta, acho que posso afirmar que lutar contra tendências também o é.

 

 O bom é que, uma vez aceita a forma, ninguém ­ fica questionando muito por que essa palavra é masculina e aquela é feminina. Nem é possível estabelecer que palavras terminadas em “-a” são femininas e palavras terminadas em “-o” são masculinas. Assim como carisma, temos  o telefonema, o guarda, o eczema, o formicida, o fantasma (já foi usado no feminino também), o pirata, o agiota, o dia, o mapa (feminino até o século XVI) e várias outras. Já terminadas em “-o” registramos a tribo, que, para os seiscentistas, era tão correto quanto o tribo.

 

Nomes terminados em “-e” são relutantes e se dividem democraticamente entre masculinos e femininos. Assim temos o pente, o mestre, o dente, , mas também temos a grade, a mente, a hélice, a laringe, a neve, a noite, a tese, a árvore, a catástrofe (antigamente era masculino) e muitas outras.

 

Há ainda as possibilidades em que temos a possibilidade feminina, mesmo soando estranhamente, razão pela qual também vão sendo esquecidas e tendem a sair dos dicionários também. Nunca houve uma mulher exercendo a função de papa, mas nossa língua oferta o seu feminino: papisa. Seguem neste caso profetisa, episcopisa (de bispo), sacerdotisa (de sacerdote), diaconisa (de diácono) etc. Merece atenção especial o caso de “poeta” e “poetisa”, “mestre” e “mestra”. Apesar dos dicionários Aurélio,  Houaiss e o Aulete, trazerem as duas formas, há uma  forte tendência em estabelecer apenas a forma masculina (ao contrário do que está acontecendo com “diabetes” e “personagem”). Alguém cismou que "poetisa" é uma forma menor de tratar Cora Coralina, Cecília Meireles ou Adélia Prado e que “mestra” é diminuir o valor acadêmico das mulheres. Atenção, o alerta vale porque isso já aconteceu com “oficiala” de justiça e “generala” de exército, termos que morreram e hoje só registram a forma masculina. Talvez percebendo este processo linguístico Dilma Roussef não deixou que ocorresse o mesmo com “presidenta”, termo com o qual ela faz questão de ser chamada.

 

Até a próxima dúvida amigos.

 

Marcos Lock (*)

E-mails para esta coluna devem ser enviados para colunapontoevirgula@gmail.com.

(*) Jornalista profissional e graduando do curso de Licenciatura em Língua Portuguesa

e suas Literaturas, da Universidade Aberta do Brasil/UNIR.

 


 

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